Medo de ser infectado pelo novo coronavírus, longo período sem sair de casa, distância de amigos e familiares, tristeza e ansiedade. Como lidar com esses sentimentos? Nem sempre é fácil e buscar a ajuda profissional pode ser a saída para muitas pessoas. Com o objetivo de amparar quem está com dificuldades para passar por esse momento, o psicólogo Wallace Sousa Simões criou o projeto “Psicologia Solidária”.
A ideia nasceu, há quase um ano, para oferecer atendimento psicológico gratuito a moradores de Montes Claros. Mas ganhou o mundo e, nesse período, cerca de 29 mil pessoas em todo o país e até brasileiros que moram no exterior já foram atendidos.
Para se adequar à demanda, o projeto precisou ser atualizado. Dez mil profissionais voluntários já ajudaram nos atendimentos gratuitos e, atualmente, 7 mil participam da ação, em todo o país.
Para Wallace Simões, formado na Fasi, em Montes Claros, em Filosofia, Ciência da Religião e Psicologia, o primeiro passo para se adequar ao novo normal é adotar as medidas sanitárias que evitam o contágio e, depois, procurar voltar à rotina o mais próximo possível do que era antes da pandemia. Ressignificar aquilo que não pode voltar a ser o mesmo neste momento também é um passo importante para lidar com a realidade atual.
“É hora de se reinventar, criar novas possibilidades, desenvolver autoconhecimento. Depois, começar a racionalizar os pensamentos, se questionar, validar se de fato aquela emoção é algo real ou é apenas fruto dos pensamentos”, ensina. Atividades físicas, na medida do possível, alimentação saudável, ingestão de água e uma boa higiene do sono são outros aliados importantes.
Outras dicas do psicólogo são fazer meditação, auto-hipnose, mindfulness e outras práticas funcionais que façam sentido e tragam benefícios para a vida da pessoa. Se mesmo depois de mudar hábitos a pessoa continuar sofrendo, ele alerta que é preciso buscar, sem hesitar, por ajuda profissional.
Acompanhe o bate-papo de O NORTE com o criador do Psicologia Solidária:
O que tem aprendido com essa pandemia?
Penso que nunca aprendemos tanto da vida como nesse tempo pandêmico. Mas o que fica de mais forte é que devemos aproveitar este instante e viver intensamente, e de maneira responsável, cada segundo. E como tudo está tão difícil e tenso, é importante não carregar mágoas, raivas, tristeza e sentimentos tóxicos. E que nunca é tempo perdido quando se dedica parte dele a quem realmente precisa. Outra coisa fundamental: aproveitar as pessoas que amamos, reforçar laços.
Como surgiu a ideia do projeto “Psicologia Solidária”? Quantos profissionais estão envolvidos?
O projeto surgiu de algumas inquietações. Durante a graduação, percebi que muitas pessoas não procuravam o profissional da psicologia por diversos preconceitos, como “psicólogo é coisa de doido”. Outra questão foi o fato de aparecer uma pandemia, um problema novo, onde nem os profissionais de saúde sabiam como lidar por causa da falta de informação. Além disso, também sempre tive em mente a ideia de agradecer, de alguma forma, à sociedade por colaborar com meu processo de formação. Graças a muitas pessoas que necessitavam de ajuda, pude fazer estágios e práticas acadêmicas. Foi uma forma de gratidão. Então, em março de 2020 fui deitar bastante incomodado com essa situação, principalmente por ter conversado com algumas pessoas durante a semana e elas relatavam estar com medo, ansiosas e com outras questões relativas ao medo da pandemia. Então, naquela noite de março, por volta das 3h, comecei a rabiscar uma ideia e fiquei a noite toda pensando. Quando amanheceu, já estava com a ideia organizada. Daí foi só buscar as pessoas para ajudarem a dar vida ao projeto. Inicialmente, contei com a ajuda de três amigos: um era formado em sistemas de informação, outro em publicidade e propaganda e o outro, designer. Busquei ajuda de alguns jornalistas e o projeto começou. Já passaram pelo Psicologia Solidária cerca de 10 mil a 11 mil psicólogos. Mas, atualmente, somos uns 7 mil profissionais da psicologia em atividade.
Como funciona o projeto, quem pode ser atendido e quantas pessoas já receberam ajuda?
O projeto faz um ano agora em março e, até o momento, atendemos cerca de 29 mil pessoas em todo o país e brasileiros que moram no exterior. O atendimento é em formato de Plantão Psicológico, todo on-line, mediado por Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), autorizadas pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP). Tem duração de 50 minutos cada atendimento e sugerimos pelo projeto que o profissional faça de uma a quatro sessões, podendo estender mediante a necessidade e a disponibilidade do mesmo. No entanto, sempre pedimos para que o paciente busque por um profissional em sua cidade, principalmente, quando notamos a necessidade de um acampamento psicoterapêutico. Qualquer pessoa que precise de atendimento pode participar. Os atendimentos são totalmente gratuitos.
Tem valido a pena dedicar tempo para ajudar as pessoas?
Sou e estou profundamente grato a todos os profissionais que abraçaram essa ideia comigo e que fizeram o Psicologia Solidária acontecer, pois, sem eles, seria apenas uma ideia, um sonho. Tenho uma gratidão eterna a cada um que dedicou e dedica parte do seu precioso tempo para ajudar e salvar muitas vidas. É alarmante a quantidade de pessoas atendidas com tendência ao suicídio.
Ao longo desse um ano de projeto, sofri e sofro muitos ataques, inclusive de profissionais que criticam minha atitude de criar o PsiSol. Mas nem tudo é flor, até para fazer o bem. Os ataques aparecem e tenho consciência da minha intenção em ajudar.
Teve algum caso que lhe chamou mais atenção?
O caso que me chamou mais atenção foi de uma jovem do Nordeste do país, que não tinha como ser atendida, pois na cidade dela não há psicólogo pelo SUS (na verdade, nem médico direito). Então, para ser atendida, ela ia para uma mercearia, onde usava o Wi-Fi do local. O dono do estabelecimento, de bom coração, ofereceu computador e a sala da administração para que ela pudesse ser atendida. Um ato que chamou muito minha atenção. O que pude ver é a solidariedade agindo em cadeia.
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Para acessar o projeto: www.psicologiasolidaria.online ou pelo Instagram: @psi.sol.
É hora de se reinventar, criar novas possibilidades, desenvolver autoconhecimento. Depois, racionalizar os pensamentos, se questionar, validar se aquela emoção é algo real ou é apenas fruto dos pensamentos.
Wallace Sousa Simões, psicólogo e criador do projeto “Psicologia Solidária”